quarta-feira, 24 de abril de 2013

EU DA RUA

De uma coisa estou certo, esse personagem, que vai nascer daqui a pouco é homem. Um senhor... E sábio! Talvez por viver tanto tempo de rua em rua, conhecendo todas as esquinas dessa louca cidade feita de concreto, ele adquiriu o hábito de observar os outros que iam e viam... Às vezes apressados, rompendo o sinal aberto, correndo cegos, desafiando os carros nas avenidas querendo chegar a algum lugar. A morte, pra quem mora na rua e tem um olhar mais atento, é sempre uma companheira. Vi muitos atropelamentos, muita gente morrer em assalto e muita gente morrer de fome... Eu que vivo na rua tem um tempinho, quase a vida toda, estou esperando meu estomago secar, vazio como um coração sem fé. Um filho meu morreu de fome ainda criança, minha falecida mulher, morreu assassinada depois de ter sido estuprada por um “amigo”, o meu filho mais velho morreu por causa da covardia de dois policiais e o bateram até vê-lo morrer. Vive-se pra morrer e a gente não se prepara para a única coisa que a gente tem de certo.

(Sérgio Santal)

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