De uma
coisa estou certo, esse personagem, que
vai nascer daqui a pouco é homem. Um senhor... E sábio! Talvez por viver
tanto tempo de rua em rua, conhecendo todas as esquinas dessa louca cidade
feita de concreto, ele adquiriu o hábito de observar os outros que iam e viam...
Às vezes apressados, rompendo o sinal aberto, correndo cegos, desafiando os
carros nas avenidas querendo chegar a algum lugar. A morte, pra quem mora na rua e tem um
olhar mais atento, é sempre uma companheira. Vi muitos atropelamentos, muita
gente morrer em assalto e muita gente morrer de fome... Eu que vivo na rua tem
um tempinho, quase a vida toda, estou esperando meu estomago secar, vazio como
um coração sem fé. Um filho meu morreu de fome ainda criança, minha falecida
mulher, morreu assassinada depois de ter sido estuprada por um “amigo”, o meu
filho mais velho morreu por causa da covardia de dois policiais e o bateram até
vê-lo morrer. Vive-se pra morrer e a gente não se prepara para a única coisa
que a gente tem de certo.
(Sérgio Santal)
Nenhum comentário:
Postar um comentário