domingo, 30 de maio de 2010

A TRISTEZA É INDOLOR

Talvez, quem sabe, nada seja mais genial que a fotografia. Ela é a nossa memória registrada em um papel. Um sorriso arfante, será um sorriso arfante por várias gerações por que teve o olhar de um ser humano para fazer desse sorriso arfante, eterno.
Pena não se cultivar o hábito de fotografar o sofrimento, pois ele foi fundamental em nosso passado, pois nos ajudou a chegar no futuro. Notem: em um albúm de fotografia, redundâncias sobre uma festa de aniversário, sobre um churrasco - ou 'xurras', se os menos favorecidos intelectualmente preferem da esse nome tenebroso a esse tenebroso ritual; - mas num albúm de fotografia a mais completa ausência da angustia de uma mãe, perante o caixão do filho morto.
A genialidade vira esses romances de banca de jornal, nas mãos de um Zé mané.
Sérgio Santal

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Trecho do conto - "TESTAMENTO"

"(...) De um modo geral deixo, a todos, existências marcadas pelo meu patriarquismo, pelo meu machismo, pela minha ignorância; herdada do meu pai, que a herdou do meu avô... Deixo aos meus entes queridos, um fim de vida mais tranquilo sem a minha presença autoritária, deixo a esperança de uma velhice melhor... Peço aos meus filhos que livrem os meus possíveis netos de uma estadia neste mundo igual a nossa. Deixem eles viverem o que é para ser vivido sem as amarras de uma sociedade que se guia por leis e bíblias (...)"
(Sérgio Santal, do livro de contos - "Pulhas")

segunda-feira, 10 de maio de 2010

SE ODIANDO POR UNS ESTANTES

"Raiva. Daqueles que não a amaram. Daqueles, que só quiseram a genialidade do seu boquete. Dos que só quiseram as maravilhas dos seus orifícios. Dos que a puseram de quatro.
Raiva: Daquelas mulheres que, em algum momento de suas torpes existências, disputaram com ela a magnetude de um cacete.
Raiva: Daquelas bichinhas boateiras que se fizeram de 'mulherzinhas' e não geniais.
Raiva.
Dos lugares comuns: políticos, o calor excessivo, as filas de bancos, o trânsito irritante, á burrice desnecessaria...
Raiva.
Da alegria em demasia. Da tristeza em demasia. De tudo que se faz demasia!
Raiva.
De ter que se entregar ao prazer solitário e não ter ninguém nesse mundo para se entregar á ela.
Raiva.
Das suas fotos. Da sua cama. Das suas calcinhas perfumadas. Dos seus absorventes sujos. Da sua conta no orkut. Do seu celular. Da sua cachorrinha. Da sua caneta.
Raiva.
De si."

- Trecho de um romance em andamento, ainda sem nome;
Sérgio Santal

quinta-feira, 6 de maio de 2010

UM POEMA DE ÓBITO (Para ti, Rafael)

Te amo.
Se você sabe disso,
se você não se importa com isso:
Eu te amo.
Se você vaga por aí.
Se você, aí de cima, olha para mim
Te amo:
com a simplicidade de alguém que esmola,
como um sábio que sensatamente chora.
Eu te amo repetidas vezes.
Eu te amo o mundo
multiplicado por treze.
Eu te amo;
como a falta de razão que há nas reticências.
Eu te amo um paragráfo vazio.
Eu te amo aqui,
ali
e no infinito.
Infinito que te recebe.
Infinito sortudo,
que já tem a sua presença leve.
Eu te amo,
não querendo finalizar essa prece.
Eu te amo agora,
como alguem que não esquece.
Eu te amo,
sem saber de mim
eu te amo sem saber do mundo,
que não o terá mais por aqui.
Eu te amo:
Mil vezes e até mais
Eu te amo
o seu sorriso
os seus olhinhos
e o seu jeitinho...
Eu te amo
sem saber se sou capaz.
Eu te amo.
E isso basta com declaração.
Eu te amo para o mundo
para o tudo,
como um vagabundo,
que se joga no nada e faz uma canção.
Eu; te; amo:
e poderia clamar nestas folhas
para sempre.
Mas há mais o que chorar
e lamentar a ausência do seu olhar,
que não se esquece.

26/04/2010 - já com saudades; (Sérgio Santal)

OUTRORA...

O crepúsculo se fazia presente e você veio até o meu portão com sua 'cafifa' nas mãos me pedir água...
Você pediá-me para eu saciar sua sede e eu não pude dá um fim nesta sua vontade.
Legenda: PASSAGEM DE TEMPO.
Já estudando contigo e absolutamento encantado com os seus predicados, te pedi (em silêncio) para que você matasse minha sede por ti. Você me olhou (assim eu imaginei) e, com toda a certeza, se lembrou da minha desculpa de geladeira descongelada e se negou a sacia minha sede... Sede, entendeu?
Quando conheci o Rafael, ao 12 anos...
(Sérgio Santal)