Talvez eu seja o último apaixonado. O último poeta a lhe dedicar um soneto e fazer você chorar. Talvez eu esteja em extinção. É que homens como eu são raros... Quem hoje em dia manda flores? Quem, em pleno século vinte e um, ouve uma música romântica e lembra-se do amor platônico? Quem é platônico nos dias de hoje? Não há poesia para amores não correspondidos. Ninguém escreve mais em cadernos... Ninguém manda cartas. E-mails impossibilitam atos românticos. Os celulares não nos deixam olhar profundamente. Tudo é chato sem atos heroicos! Não se vislumbra mais arco-íris no céu. Quase não se ver mais o céu. Meninos soltando pipas, descalços no meio da rua, onde estão vocês? Sinto falta de cheiro de livro... Queria tanto morrer no seu colo... Vamos cantar Alcione em voz alta! Meu folego está acabando... Sinto que vou findar perante o computador e nada mudará. Por que você é tão cínico? Tão banal? Te vejo refletido nos outros e me entristeço. Você devia ser especial... Não chore... é triste lhe ver tão acuado, como medo de si. Olhe-se no espelho e contemple-se ao invés de se olhar. Verás que anda brincando consigo e não gostará de saber disso. Nós somos o único patrimônio que nos resta. Cuidaremos de nós! Um passo de cada vez, respirar pausadamente e procurar não se surpreender. Um dia após o outro e tudo tomará ares plácidos.
(Sérgio Santal)
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